As tendências de moda têm como origem a própria história da
moda desde seu surgimento, e pode ser dividida em quatro momentos: A Moda Aristocrática,
Moda de Cem Anos, Moda Aberta e Moda Consumada ou Contemporânea. Nos dois
primeiros momentos, a lógica é a imitação das tendências partindo das classes
sociais mais elevadas e alcançando todas as classes.
Moda Aristocrática
O conceito de Moda Aristocrática nasce com a moda, ligada à
nobreza e hierarquias políticas e sociais. Este período vai desde o século XIV
até meados do século XIX.
Na França do século XIV, a moda era um capricho
aristocrático que causava sensação na corte. Os trajes eram vistosos, os
materiais eram raros e os tecidos suntuosos. Os vestidos na corte competiam em
elegância e volumes. O que predominava era o gosto pelo exagero e pela
opulência. Isso é o que permitia que as classes ricas se diferenciassem das
demais classes.
Foi com a expansão do comércio e a ascensão econômica da burguesia, que desejava assemelhar-se às classes superiores, imitando seus
costumes e sua aparência e, com a nobreza buscando inovações para se
diferenciar quando percebia que sua aparência já tinha sido imitada pelas
classes inferiores, que se estabeleceu o sistema da moda: a valorização do novo
e a imitação.
Moda de Cem Anos
A Moda de Cem Anos cobre um período que vai de 1858 até
1958, no Pós-Guerra. Tem início quando o costureiro inglês Charles Frederick
Worth, abriu sua primeira casa de estilismo em Paris, desenvolvendo modelos
exclusivos para suas clientes, que até então mandavam fazer suas roupas em
costureiras particulares, que apenas executavam o que elas determinavam, de
acordo com seu gosto pessoal.
Para proteger suas criações de cópia, em 1868 Worth fundou a
Federação dos Alfaiates Parisienses. Em 1911 funda a Chambre Syndicale de la
Haute Couture, e passa a colocar etiquetas personalizadas nas roupas. Nasce o conceito de Alta Costura e a partir
daí, são os seus membros que ditam as tendências. Estabelecem um ritmo para
lançamento das coleções e inovam o conceito de desfiles com as modelos vestindo
suas criações em salões elegantes para as clientes de alto poder econômico.
O termo Alta Costura
(Haute Couture) é protegido legalmente e para fazer parte deste grupo, é
necessário preencher alguns requisitos como ter um atelier em Paris, com pelo
menos 20 empregados em tempo integral, produzir roupas sob encomenda, lançar duas
coleções por ano (janeiro e julho), com modelos tanto para o dia como para a
noite.
Conheça mais sobre a Fédération de la Haute Couture et de la
Mode (FHCM) no link
https://www.fhcm.paris/en/federation-de-la-haute-couture-et-de-la-mode
A Alta Costura é o ponto mais alto da moda, apesar de ser um
segmento pequeno, seu real valor está na estratégia de marketing, já que as
semanas de moda em Paris atraem a imprensa e personalidades do mundo todo,
dando à marca grande visibilidade e mantendo o status de marca desejável.
Efeito Trickle-Down
Como vemos, nestes dois momentos da moda, Moda Aristocrática
e Moda de Cem Anos, a difusão das tendências acontece a partir de pessoas
pertencentes a classes sociais mais elevadas tanto pelo dinheiro como pelo
prestígio e estas tendências seguem em direção aos indivíduos da posição
inferior. Este sistema de difusão de tendências é conhecido como efeito TRICKLE
DOWN.
A difusão das tendências tem início com as criações dos
estilistas de Alta Costura e dos desfiles de passarela seguindo um percurso que
alcança a Moda de Alta Qualidade, com estilistas de do Prêt-à-Porter de luxo,
chegam então ao Mercado intermediário do varejo de luxo porém mais acessível,
são difundidas no Mercado de massa do varejo multimarcas, e na outra ponta da
cadeia, as ideias são adotadas no Mercado de varejo de baixo preço.
Um exemplo do efeito TRICKLE DOWN é a jaqueta em tweed
CHANEL que começou com a invenção do
tailleur no início da década de 1950, combinando elementos masculinos e
femininos. Foi um sucesso imediato e o tailleur
e a jaqueta se tornaram itens essenciais nos guarda-roupas das mulheres.
Reinventada a cada estação, a jaqueta tornou-se um dos elementos icônicos da
marca. Hoje ela está presente na Alta Costura e no Prêt-à-Porter da Chanel e
também em marcas de todos os segmentos, sendo encontradas também no mercado de
baixo preço.
Efeito Bubble-Up
As tendências de moda são detectadas pelos escritórios
especializados em pesquisas sobre os mais diferentes comportamentos das pessoas
em todo o mundo. Estes escritórios analisam e podem prever o que será moda um ano
depois, ou mais. As marcas, com base
nestas pesquisas definem os temas de suas coleções. Isto acontece desde que a
roupa usada nas ruas se transformaram em tendências de moda. É o resultado do
efeito Bubble Up, ou efeito borbulha. Vamos ver como as regras mudaram.
A moda aberta
A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) abalou a economia do
mundo e consequentemente o comportamento das pessoas. A moda feminina neste
período se inspirava nos uniformes militares, com tecidos pesados e cores
sóbrias, uma espécie de versão feminina da moda dos homens. A nova condição da
mulher que já ocupava postos de trabalho importantes, a partir do momento em
que os homens seguiram para os campos de batalha, refletiu na moda.
A partir das décadas de 1950 e 1960, como reflexo destas
mudanças, as regras ditadas pela Alta Costura, com a Moda de Cem Anos,
começaram a perder a importância como lançadoras de tendências.
Os anos 1950, principalmente nos Estados Unidos, colocaram a
juventude em evidência com uma atitude de rebeldia e anseio por liberdade. O
rock dominava a cena musical, alguns filmes como O Selvagem e Juventude
Transviada elegem Marlon Brando, James Dean e Elvis Presley como os ícones
desta geração e influenciando o comportamento e o modo de vestir.
Início do Prêt-à-Porter
Os americanos já consumiam a moda pronta, feita em série (ready-to-wear)
e criavam suas próprias tendências baseadas na praticidade e na nova condição
da mulher que trabalhava e já não dispunha de tempo para costurar suas roupas.
A França, até então considerada berço da moda, entendeu que
era a hora de mudar seus conceitos. Assim, em 1955 uma missão do governo
francês composta por fabricantes, publicitários, jornalistas de moda e
funcionários do governo, partiu para os EUA, a fim de conhecer de perto o novo sistema
de fabricação de roupas.
Na França, a fabricação em maior escala o foi traduzido para
Prêt-à-Porter, como o mesmo significado: moda pronta para usar. Em 1956
acontece o primeiro Salão de Prêt-a-Porter feminino em Paris. A proposta inicial era produzir uma roupa em
série de alta qualidade, para um público jovem ainda acostumado com a Alta
Costura. Portanto, dirigido para o mercado do luxo, porém um pouco mais
acessível.
Um dos nomes da Alta Costura que aderiu ao novo conceito foi Yves Saint Laurent. De origem argelina, nascido em uma família de classe alta, por influência da mãe enveredou pelo mundo artístico e pela Alta Costura. Aos 17 anos foi trabalhar com seu mentor Christian Dior que, depois do falecimento, deixou o controle criativo da marca nas mãos do jovem YSL, de apenas 20 anos de idade, onde permaneceu até 1960, quando foi convocado para a guerra, depois de lançar duas coleções.
Ao voltar da guerra, havia sido substituído na Maison Dior por Marc Bohan. Decidiu então que era hora de criar a sua própria marca em sociedade com o parceiro Pierre Bergé, decidindo focar na moda prêt-à-porter, inaugurando sua loja no lado esquerdo do Rio Sena, quando as tradicionais maisons se localizavam no lado Direito. Yves Saint Laurent consegui fazer a transição da alta costura para o Pret-à-Porter com maestria.
Por volta de 1960, a juventude pós-guerra queria novidades, desejava inovar e romper com os padrões mais conservadores e, por ser um mercado com potencial de compra, que já se tornara mais independente financeiramente, acontece uma revolução na moda: o Swinging Sixties em Londres, conhecido como Swinging London.
A moda punk
Na década de 1970 em Londres em meio a uma crise econômica,
os jovens desempregados reagiram com o movimento "No Future" (Nenhum
Futuro), criando um visual inusitado e transgressor. É a origem do movimento
PUNK.
A moda punk foi elitizada quando fashionistas e formadores
de opinião aderiram ao estilo da rua, e passaram a adotar, porém com versões
mais sofisticadas. Vivienne Westwood foi a pioneira na produção destes modelos,
quando produzia o visual da banda pioneira do movimento, Sex Pistols.
Os cabelos coloridos espetados, metais, botas tipo coturno e
a jaqueta de couro, se transformaram em moda e copiados mesmo por quem não era
adepto do movimento. E o estilo punk sempre volta revisitado e é visto nas ruas
em várias versões.
O Estilo Grunge
Nos Estados Unidos a banda de rock Nirvana, nascida em
Seattle, divisa com o Canadá, tendo como líder Curt Cobain, símbolo do
movimento, inspirou jovens do mundo todo com o estilo grunge. As roupas
baratas, que os trabalhadores usavam, faziam parte do visual da banda, que
tinha um estilo desleixado, jeans rasgados e um aspecto meio sujo, (daí o nome grunge) e logo, as camisas de flanelas
xadrez se transformaram quase em uniformes, devido ao sucesso da banda.
Alguns estilistas de marcas de luxo apostaram na ideia e
levaram às passarelas a moda grunge. Em 1993, Ana Sui e Perry Ellis, tendo Marc
Jacobs como diretor criativo, foram os primeiros a acreditar na tendência. A
ideia não foi bem aceita pela imprensa especializada, o que levou à demissão do
Jacobs.
Mas, a força das ruas e o gosto popular provaram que é
preciso manter os olhos voltados para o que de fato as pessoas estão usando. Os
jeans rasgados do Nirvana e as blusas xadrez que se tornaram os traços
marcantes da banda, continuam a frequentar as passarelas e as ruas em todo o
mundo.
Moda Consumada ou Contemporânea
É a consolidação da difusão das tendências a partir do
efeito bubble-up. É o momento em que o indivíduo busca se expressar através de
seu estilo próprio, criando uma imagem que traduza sua personalidade. Há um
rompimento de regras e o gosto acentuado por novidades, faz com que o sistema
da moda se torne cada vez mais veloz.
Com o suporte da internet e das redes sociais a moda é
democratizada e facilmente disseminada. As tendências continuam se apresentando
nas semanas de moda, mas o que se constata é a reinterpretação que cada
indivíduo ou grupo de indivíduos faz.
Os estilos se multiplicam, as influências vêm de diversas
fontes. Seja um ícone da música, do esporte, ou uma pessoa influente em
qualquer área, através da mídia, compartilhando seu estilo, arrebatam milhares
de seguidores que passam a adotar seu estilo. Recentemente tivemos um retorno
ao minimalismo, batizado de recession
core, como resposta espontânea ao momento pós-pandemia e o desejo de
eliminar os excessos, valorizando o essencial.
É desta forma que a moda se apresenta hoje, refletindo o
comportamento e a atitude do indivíduo em busca de fortalecer sua imagem,
fugindo dos padrões pré-estabelecidos.
E por hoje é isso. Esperamos que tenha gostado do nosso conteúdo.
Obrigada pela visita. Você é sempre bem vindo(a) por aqui.
Tchau!